Leandro Alves

Pandemia, gafanhotos, tornado. Deus estaria nos punindo?

18 agosto 2020

O ano de 2020 trouxe diversos acontecimentos digninos de cinema, ou de histórias bíblicas. Pandemia, ataque de gafanhotos e até mesmo tornado no sul do Brasil reavivaram uma visão recorrente na igrejas evangélicas brasileira de que Deus castiga o povo infiel e pecador, assim como fizera no Antigo Testamento. Entretanto, quem associa as catástrofes que observamos nos tempos atuais às antigas pestes bíblicas faz uma leitura equivocada tanto das pragas do Egito, quanto da aliança bíblica.

Primeiramente, as pragas do Êxodo têm contexto e objetivo específicos que nada tem a ver com punição. Os descendentes de Abraão que estavam no Egito ainda não formavam um povo unificado, com uma identidade nacional, nem uma relação de conhecimento com Deus. É neste momento que Deus age demonstrando seu poder e superioridade para com o faraó, a fim de se revelar ao seu povo:

Êxodo 6:7

E eu vos tomarei por meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios;

Paulo demonstra este fato em Romanos 9, ressaltando que fora o próprio Deus quem endurecera o coração do faraó para não liberar a saída dos hebreus:

Romanos 9:17,18

Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer.

Assim, as pragas descritas no Êxodo não se tratam de uma punição pelos maus atos do povo, mas sim uma ação soberana de Deus com o propósito de revelar o seu poder, unificar o seu povo e cumprir à aliança que fizera a Abraão.

Além disso, a nova aliança de Deus com o seu povo, revelada em Jesus, não se baseia em justiça retributiva, mas na fé, ao contrário da primeira aliança firmada com os patriarcas, que era uma relação de compromisso mútuo de Deus com o seu povo. O capítulo 28 de Deuteronômios resume os termos deste pacto, onde são apresentadas tanto as bênçãos, quantos as maldições que afligiam o povo, a depender do cumprimento ou não da aliança:

Deuteronômio 28:15

Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus, para não cuidares em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos, que hoje te ordeno, então virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão:

A Nova Aliança entretanto, desmonta a lógica da justiça retributiva. Nela, a graça alcançada se demonstra como um favor imerecido e não como uma compensação pelos atos benignos realizados. Ou seja, o favor divino é obtido por meio da fé em Jesus, que é o responsável por cumprir os termos da antiga aliança. Paulo demonstra isto na sua interpretação da aliança feita em Gálatas 3.

Gálatas 3:10

Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.

Deste modo, a noção de graça e justificação pela fé da Nova Aliança afasta a possibilidade das maldições descritas em Dt 28.

Por isso, não é correto imaginar que há alguma relação entre as pragas enviadas por Deus no Antigo Egito, com qualquer intempérie dos dias atuais, sejam pragas, doenças ou catástrofes climáticas, muito mesmos atribuir a isto um significado punitivo divino. Afinal, como disse Jesus (Mt 5:45) “o sol brilha sobre maus e bons e a chuva cai sobre os justos e injustos”.


Por Leandro Alves que constrói coisas para facilidar a vida das pessoas Me siga no twitter